Depois de uma turnê de dois anos divulgando o primeiro álbum pela Roadrunner, o Slipknot voltou para o estúdio com Ross Robinson para gravar o seu aguardado álbum sucessor. Imediatamente, os ânimos se exaltaram. Felizmente, os membros da banda conseguiram canalizar sua animosidade em suas músicas, criando seu álbum mais extremo até agora. Canções como “Disasterpiece”, “People = Shit” e “The Heretic Anthem” que pendem muito mais para o contundente death metal do que a para a angústia do nu-metal. A faixa-título que encerra o disco, entretanto, vai para uma direção: uma música sombria e psicodélico repleto de diálogos de assassinos em série, batidas sonoras, suspiros irritantes, gritos e coisas que se chocam à noite, colocando o medidor de terror no máximo. Abaixo, os principais atores por trás do Iowa olham para o álbum que, de acordo com Shawn “Clown” Crahan, do Slipknot, quase matou todos eles.

MONTE CONNOR (Ex-Diretor Artístico da Roadrunner Records): Todo mundo achava que eles fariam um álbum menos agressivo e se tornariam mainstream. E eles ao invés disso fizeram um disco que era substancialmente mais pesado. Quando eu ouvi pela primeira vez eu adorei, mas como um cara de gravadora eu pensei, o que vamos fazer com isso?

JIM ROOT: Foi uma época de raiva e as músicas refletiram isso. As pessoas esperavam que nós saíssemos com um disco cheio de faixas no estilo “Wait and Bleed” ou “Spit It Out”, e queríamos ir contra isso. Esse teria sido o caminho mais seguro, mas acho que nunca fizemos nada com o objetivo de ficarmos seguros. Para nós, fazia mais sentido trazer essas coisas mais brutais à tona.

JOEY JORDISON: Fazer um disco do Slipknot é como a porra de uma prisão. Você está preso até terminar. Você está fodido. Eu estou em uma banda com os melhores músicos do mundo. Eu sou tão abençoado. Mas, ao mesmo tempo, quando nos reunimos – embora tenhamos muito amor um pelo outro – nós queremos matar um ao outro. E é aí que algumas coisas saíram do controle. Quando fizemos Iowa, foi um período muito sombrio para a banda. Algumas das nossas músicas mais fortes e significativas estão nesse álbum, mas estávamos todos drogados e bêbados e isso era uma droga.

CHRIS FEHN: Todos nós já trabalhámos muito antes, mas agora estamos caindo na farra mais e temos um pouco de dinheiro e podemos pagar algumas drogas que antes não podíamos. Ficou esquisito e eu não achava que conseguiríamos nos manter juntos.

COREY TAYLOR: Eu não conheci meu pai até a turnê do álbum de 2 Volume 3: (The Subliminal Verses). Eu não sabia o nome dele ou o rosto dele. Eu não fazia ideia de que minha mãe o havia mantido fora da minha vida por muito tempo. Quando você cresce assim, você automaticamente assume que há algo errado com você. Eu pensei que meu pai não queria estar lá e nem sequer manter contato. Tem que ser minha culpa. Foi algo que eu lutei e ainda faço. Isso ainda afeta minha confiança todos os dias. Mas na época, cara, não havia como lidar comigo. Eu era uma bagunça. Eu estava bebendo muito. Eu estava em um relacionamento que não era bom para mim e eu não queria enxergar isso na época. Quando fomos para Los Angeles, comecei a beber a me tornar mulherengo. Eu fazia qualquer coisa para me sentir bem, porque todo o resto só me fazia mal. Eu estava comendo muito, ganhando peso. Eu não estava sentindo nada além de angústia. Mas eu sabia que tínhamos uma responsabilidade, e é por isso que Iowa é tão sombrio.

PAUL GRAY: É engraçado, cara, porque eu não estava tão mal. Eu senti que precisávamos fazer o álbum enquanto ainda havia algum impulso. Mas Shawn tem família e alguns dos caras se sentiram esgotados e todos estavam festejando um pouco mais do que deveriam. Ao fazer o disco, comecei a usar cocaína o tempo todo e escrevendo músicas. Mas achei que tudo estava legal. Nós nos mudamos para o estúdio [Sound City] e fizemos Iowa, que eu amo. Mas acho que poderíamos ter passado mais tempo em casa relaxando e se juntando mais como banda.

ROSS ROBINSON, PRODUTOR: Eu quebrei minhas costas em um acidente de moto, o que foi realmente perfeito para o álbum, porque o Slipknot estava tendo um grande sucesso e saíam todas as noites e não apareciam no estúdio a tempo. E assim que eu quebrei minhas costas no motocross, tirei um dia de folga e apareci no dia seguinte e fiquei com muita dor. Eu apenas fui, “Olha, filhos da puta, eu estou indo aí. Vamos fazer logo essa merda.” Acho que funcionou.

SID WILSON: Ross se machucou e ele ainda voltou ao trabalho ferido. Esse cara e eu temos muito em comum. Ele estava em uma cadeira de rodas todo fodido e com dor e você podia ouvi-lo gritando de dor enquanto ele estava produzindo o álbum.

TAYLOR: Eu só me lembro de muita escuridão, muita raiva. Eu estava me cortando gravando músicas no estúdio. Eu estava sangrando em todos os lugares. Eu só queria sentir algo, não me importava com o que era. Quando eu estava fazendo o álbum [Self-Titled] eu estava deixando tanto ir e me sentia bem. Fazendo Iowa, eu não estava deixando nada ir. Foi apenas raiva por causa da raiva. Foi difícil e eu estava tão infeliz. Por sorte, nós conseguimos um álbum sombrio, brutal e incrível.

 

SHAWN “CLOWN” CRAHAN: A vida era um desastre, porque haviam interferências externas. Drogas, mulheres, idiotas que falavam: “Uau, vocês vão fazer sucesso pra caralho”. Só queriam o nosso dinheiro. Por isso eu odeio o Iowa, mas é o melhor da música brutal. As pessoas falam “faça outro Iowa”. E eu sou só digo isso [estende o dedo médio], “Sente-se nisso! Você sabe por quê? Nós quase todos morremos”. Foi ruim. Rolavam drogas sintéticas. Eu era provavelmente o pior, cara. Minha esposa estava muito doente durante esses tempos. Eu me sentia muito solitário porque não podia estar com ela. Então, da tristeza de não estarmos juntos, há aquela frustração e raiva, também, de ela estar cuidando de três crianças e estarmos mentindo sobre dinheiro e ainda estarmos sem dinheiro. Há uma razão pela qual metade do meu cérebro está cortado da minha máscara. Eu tenho dois chifres, um pentagrama, sangue. Apenas manda ver. “Ei, mãe. Você quer me chamar de satanista? Legal. Eu vou fazer tudo isso não porque eu sou um satanista, mas porque eu estou chateado com você por me julgar. Então, adivinhe? Eu vou castigá-la pelos próximos anos e seu filho é um fã nosso”.

TAYLOR: Certa noite, estávamos tendo “Jogos Olímpicos de Móveis para o Pátio”, jogando merda pelas portas do pátio no rio de Los Angeles. Nós jogamos cadeiras, todos os meus pratos, nós tentamos colocar a cama ali em um ponto. Terminou com um ménage à trois no quarto de hotel de alguém. Lamento me como isso fez minha garota se sentir na época.

ROOT: Sempre haviam mulheres aleatórias nos seguindo. Na época, eu era muito ingênuo e pensava: “Oh, essa garota realmente gosta de mim”. Mas não, ela realmente não gosta de mim. Ela gosta da ideia que ela tem de mim.

MICK THOMSON: Ninguém sabe como elas são até que eles estejam em uma situação diferente. As pessoas pensam: “Sou muito pé no chão. Eu sou fiel. Eu nunca trairia minha namorada ou minha esposa”. Sério? Já experimentou ter um monte de mulheres gostosas diante de você todas as noites, prontas pra se entregar? Não? Mas em algum momento, quando isso é oferecido a você, como você responde? Tudo está mudando. Finanças, relacionamentos fodidos. Você nunca pode realmente saber quem são seus amigos. Como você confia em alguém que conheceu quando você é famoso? Todo mundo “ama” você agora.

ROOT: Eu era muito bom em esconder das pessoas o meu vício em drogas. Mas quando estávamos gravando Iowa, eu estava me divertindo havia alguns dias e depois tive um colapso. Eu não fui no estúdio por alguns dias, e um dos caras da nossa empresa de gestão teve que me colocar em uma mesa de cristal para tentar me desestressar um pouco. Deitado na mesa, falei: “Que merda eu estou fazendo aqui? O que essa mesa vai fazer por mim além de esticar as minhas costas?”. Então eu comecei a construir um muro ao meu redor. Eu me separei da banda. Eu entraria no estúdio o mais cedo que pudesse para conseguir fazer as minhas partes ir embora antes que qualquer outro integrante chegasse. Eu apenas tentei ficar longe de todo mundo.

THOMSON: Fiquei revoltado com aqueles que foram sugados para o mundo do sexo e das drogas. Eu não estava saindo no vestiário e indo atrás de mulheres todas as noites. Desculpa. Não é para mim. Eu apenas evitei pessoas. Nos dias de folga, você nunca me veria fora do meu quarto de hotel. Eu diria, ok, foda-se. Agora eu tenho cerca de 16 horas em que não preciso ouvir a voz de outra pessoa. Não teria “Ódio” em japonês no meu antebraço por nenhuma razão. Eu prefiro ficar sozinho do que estar perto de um monte de pessoas que eu não me importo, não se importam comigo ou estão cheias de merda. Eu posso ficar em casa, jogar Xbox, tocar minha guitarra, bater uma, dormir. O que mais você precisa?

CRAHAN: O melhor momento para mim foi quando Sid estava um pouco fora de controle, não queria nada. Ele diz: “Eu tenho que ir. Meu avô está morrendo. Eu tenho que estar lá.” O avô morre. Ele não chegou lá a tempo. Sid aparece, mas vemos que ele está sofrendo. Ele entra na cabine de gravação. Começam a música. Ele começa a cantar. A próxima coisa que você sabe é que a música terminou, ele tem um colapso e isso é “(515)” [a introdução de Iowa]. Isso é tudo é o Sid. Eu venho no dia seguinte, Ross está chorando. Coloca os braços em volta de mim. “Eu estive esperando por você, Clown. Você é uma das poucas pessoas que vão entender isso. Esta é a minha parte favorita do disco. É a parte mais real do álbum.” Foi Sid tendo um colapso de toda a dor nesta coisa chamada Slipknot.

GRAY: O lançamento do álbum continuava sendo adiado. Nós fizemos turnê por meses antes do disco sair. Finalmente o disco sai. Nós estávamos pra começar a turnê do Pledge of Allegiance com o System of a Down, daí o 11 de setembro aconteceu.

CRAHAN: Somos banidos imediatamente. Nós estávamos cantando “People = Shit” por três meses. Esse foi o nosso menor ciclo de turnê. Nós fizemos sete ou oito meses, então não mais.

TAYLOR: Não foi uma época boa para o país nem para nós. Fomos banidos de várias rádios e a MTV não queria saber de nós. Então ali estávamos com o nosso melhor trabalho até então e ninguém queria nos dar uma chance. Estávamos ralando pra caralho e não víamos a cor do dinheiro. Perguntávamos : “Onde está a porra do dinheiro? Onde está o maldito dinheiro?” E ninguém poderia nos dar a porra da resposta. Ninguém poderia nos dizer o que diabos estava acontecendo. Estávamos todos exaustos e estávamos à procura de um pouco de alegria. O brilho do primeiro álbum desapareceu completamente e foi um eclipse total por muito tempo.

JORDISON: Nosso empresário na época, Steve Richards, fez muitas coisas boas, Deus abençoe sua alma. Ele está morto. Mas foi o antigo cenário que você ouve com Ted Nugent ou quem quer que seja. Nós acabamos sendo roubados e não nos contaram a verdade. Mas eu não penso mais sobre essas coisas. Espero que ele esteja descansando bem e que ele esteja em um lugar melhor. Eu não guardo rancor contra Steve.

THOMSON: Eu deveria ir atrás o Steve Richards e bater no cadáver dele. De vez em quando eu acho que pode haver um Deus que colocou um cisto no cérebro dele e o transformou na porra de um zumbi. O cara entrou na nossa vida e tentou causar desentendimentos entre os membros da banda porque, desde que você os mantenha ocupados, você pode estuprá-los e roubá-los e eles não estão percebendo, porque eles estavam envolvidos demais em babaquices e não enxergava o todo.

TAYLOR: Houve muitos gritos e muita animosidade, e essa é uma das grandes razões pelas quais fomos e recomeçamos Stone Sour. Nós tínhamos que dar o fora daqui. E percebi que estava desistindo de muito poder, muito controle. Então, quando fizemos Stone Sour, eu fiz muita produção e arranjos, o que foi bom para minha cabeça, mas isso não resolveu o problema.

ROOT: Corey começou a fazer Stone Sour novamente e eles me pediram para entrar. Haviam apenas todos esses pontos de interrogação em todos os lugares sobre o futuro do Slipknot, porque estávamos realmente nos divertindo fazendo as coisas do Stone Sour.

GRAY: Eu estava chateado. Eu pensei, Porra, nós deveríamos estar trabalhando no Slipknot. Mas agora que penso nisso, foi perfeito porque deu ao Slipknot um tempo. Nós estávamos fartos de foder um com o outro. Foi um tempo longo e difícil para mim, mas definitivamente foi melhor para a banda. Durante o tempo de folga eu toquei com a banda de stoner-rock chamada Unida e toquei com os amigos. Eu não fiz muita coisa – muita bebida, algumas drogas. Drogas muito, muito pesadas. Heroína. Eu injetava speedballs todos os dias. Depois eram os comprimidos. Eu tomava tudo, cara. Estávamos trabalhando no DVD Disaterpieces. Aquela era a única coisa que estava acontecendo no Slipknot. No começo, eu até que mantinha meus problemas sob controle, mas depois de um tempo não conseguia mais. Eu me tornei e sempre serei viciado.

CHRIS FEHN: Ninguém se falava e o Corey estava no Stone Sour. Eu não sabia se íamos um dia retomar a banda. Aguardava uma ligação do Slipknot todos os dias, e isso nunca aconteceu, o que só piorou a minha depressão. Quando eu dirigia pela montanha em direção à minha casa, ouvi o Corey no rádio com o Stone Sour. Era uma música muito boa. Eu ficava arrasado e ao mesmo tempo feliz por ele. Então o que eu deveria fazer? Simplesmente me jogava nas drogas e tentava suportar as noites. Estava passando por uma tortura mental. Usava muitas drogas e acordei algumas noites no chão do banheiro sem saber se veria a luz do dia novamente.

via Revolver Magazine